Autor: Professor Victor Lucas Caldeira
Coautor: Professor Hugo Ferreira
A visão da sociedade sobre a língua de sinais e o sujeito surdo não permaneceu a mesma ao longo dos anos, várias foram as transformações que podem ser destacadas ao longo da história.
De acordo com inúmeros textos, a visão vinculada aos surdos e a língua de sinais mudou drasticamente no decorrer da história da humanidade. No início dos tempos os surdos e as pessoas que demonstravam algum tipo de deficiência, sequer tinham direitos, ainda mais como os que são concedidos atualmente.
No período primitivo havia um ideal de perfeição estipulada, então todo indivíduo que demonstrasse características que saíssem desse padrão de normalidade eram excluídos da sociedade após seu nascimento. Nas cidades que produziam guerreiros como Grécia e Esparta, o infanticídio era algo natural, a fim de manter uma linhagem pura, com toda a população sendo funcional perante a guerra. Os surdos eram abandonados e assassinados, tal fator variando de acordo com sua localidade.
No início da idade Média a concepção do papel do surdo se transforma. Este não pode mais ser sacrificado ou abandonado, pois sua condição agora está associada a castigos divinos, ligado diretamente à obtenção de pecados através do sangue, ou melhor dizendo sua linhagem. O argumento utilizado é que os pais cometeram alguma infração, e o castigo enviado por Deus acometeu os filhos. Nesse período o corpo com doença ficou associado com uma “oficina do diabo”. Como o infanticídio não era mais visto com bons olhos, os centros religiosos ficaram por conta da criação e educação dessas pessoas até a fase adulta. Os surdos eram privados de inúmeras coisas, até mesmo de confessar seus pecados. Só a partir das Santas Casas de Misericórdia, que houve a preocupação de ensinar a estes indivíduos, é nesta fase que começa o caminho para a educação dos surdos.
Na idade Moderna, houve o início do aparecimento de defensores da capacidade de aprendizagem dos surdos. O monge beneditino Pedro Ponce de Léon (1520-1584) foi tido como o primeiro a ter como objetivo o ensino da escrita e da leitura ao público surdo. Logo, com Pedro Ponce de Léon surge o alfabeto bi-manual, onde o estudante aprendia as letras e a soletrar, mas não a se comunicar indiscriminadamente. Com isso, há provas de que a educação dos surdos era possível. Nessa época além do alfabeto manual também existia a corrente de ensino chamado oralismo, que se desenvolve na idade moderna. O mesmo tem como foco a oralização dos indivíduos surdos, que nada mais é do que o ensino da língua oral e da leitura labial para os indivíduos surdos, os privando da comunicação através da língua de sinais.
Com Charles Michel L’Epée (1712-1789) a educação dos surdos passou por uma revolução, o mesmo visava o acesso a educação a todo os tipos de surdos independente da classe social. Ficou conhecido como “pai dos surdos”.
Já na idade Contemporânea, havia o intento de diminuir a surdez, então o medico Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838) promoveu várias experiências com surdos, para entender as causas da surdez. O surdo nesse período é visto como doente e a surdez como patologia. Mesmo com esses estereótipos a linguagem de sinais foi reconhecida como a língua natural da comunidade e do indivíduo surdo.
Já no Brasil a primeira escola voltada para o público surdo foi inaugurada em 1857, conhecida como Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, atualmente com o nome Instituto Nacional de Educação de Surdos ou simplesmente INES.
Em 1880 ocorre o congresso de Milão onde a língua de sinais foi abolida e o oralismo se fortifica como método preferencial para a comunicação dos surdos. Contrariando essa perspectiva Stokoe (1919-2000), através de estudos comprovou que surdos que mantinham contato com a língua de sinais se desenvolviam mais do que surdos que foram educados com base no oralismo. Após essas pesquisas houve um congresso mundial em Paris que ficou marcado pela decisão de que os surdos seriam educados através da comunicação total, Esse modelo visa o ensino dos surdos por todos os meios possíveis, como a língua de sinais, a comunicação oral e a mímica. Fato esse que desencadeou muita confusão e não tanto soluções.
Em 1987 foi fundada no Brasil a FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos no Rio de Janeiro. Mesmo sendo fundada a instituição só
conseguiu uma sede própria no ano de 1993. Em 1994 é conquistado o direito de educação universal através da Declaração de Salamanca. Em 2002 o atual presidente do Brasil, oficializa a Libras – Língua Brasileira de Sinais como segunda língua do Brasil, dando direito a todo cidadão surdo o acesso a sua língua materna. Em 2005 vigora o decreto Nº 5.626 que viabiliza acesso total dos surdos a áreas como saúde, educação e trabalho. Salientando a importância da cultura surda, a valorização do intérprete de Libras e sua formação.
Através dessas legislações a Língua Brasileira de Sinais – Libras, vem sendo inserida nos currículos de graduação, sendo bastante comum nos cursos de licenciatura, com o objetivo de progressivamente desmistificar a posição dos surdos em nossa sociedade. A inserção dos intérpretes em vários espaços sociais também fortalece o princípio de acesso democrático que todo indivíduo surdo têm por direito.
REFERÊNCIAS
CRISTIANO, Almir. Feneis. Disponível em: < https://www.libras.com.br/feneis>. Acesso em: 23 Nov. De 2020.
CRISTIANO, Almir. O congresso de Milão. Disponível em: <https://www.libras.com.br/congresso-de-milao>. Acesso em: 23 Nov. De 2020.
CORDEIRO, Aliciene Fusca Machado. Relações Entre Educação, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano: As Contribuições de Jean Marc-Gaspard Itard (1774- 1838). PUC, São Paulo, 2006. Disponível em: <https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/16286/1/Aliciene%20F%20M%20Cordeiro.pdf>. Acesso em: 23 Nov. De 2020.
INES. Conheça o INES. Disponível em: <https://www.ines.gov.br/conheca-o-ines>. Acesso em: 23 Nov. De 2020.
LOPÉS, Alberto. Charles Michel de l’Epée, o pai da educação pública para surdos. EL PAÍS, 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/24/cultura/1543042279_562860.html>. Acesso em: 23 Nov. De 2020.
LOURENÇO, K. R. C.; BARANI, E. Educação e surdez: Um resgate Histórico pela trajetória Educacional dos Surdos no Brasil e no Mundo. Revista Virtual de Cultura
Surda e Diversidade. N.08, Set/2011.
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